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Crítica | Alien: Covenant


É, no mínimo, cativante quando se há a confiança por um icônico diretor na assinatura de um filme, principalmente quando se trata de um retorno à casa. A maior virtude reside ocasionalmente em notar o diferencial da peculiaridade na direção de grandes nomes do cinema, e embora Ridley Scott alcance nuances de seu reconhecido talento em decisões técnicas de Alien: Covenant, não passa em branco a impressão de que o sexto filme do universo criado em 1979 poderia muito bem ser dirigido por qualquer outro nome.

É inevitável que acessemos a memória saudosista do primeiro Alien ao lidarmos com Covenant, tanto por moderadas referências gráficas quanto por pequenas decisões narrativas de Scott ao longo da projeção. Mesmo porque, a produção prometeu retornar ao terror, afastando-se delicadamente da ficção-científica do rumo tomado pela série. Porém, por mais inevitável que a comparação se torne, mais cruel ela é com Covenant. Enquanto o filme brilhantemente interpretado por Sigourney Weaver explorava o horror sugestivo de forma elegante e assustadora por meio de escuridão e baixos recursos da época, a ousadia de Scott era absolutamente precisa ao colaborar estes elementos de medo com cenas brutalmente gore e sangrentas. Já no filme de 2017, a construção do horror é completamente descartada (o pior: não por falta de tentativa) por elementos distrativos e falhos da trama, embora tenha bons momentos de criação de atmosfera e desenvolvimento de tensão modestamente distribuídos ao longo das 2 horas.

Enquanto Scott poderia optar pela elaboração do enredo em cima do desconhecido, causando o gratificante incômodo no espectador de que algo está errado durante os quase 50 minutos iniciais de trama - sem ação ou criatura -, ele acaba se preocupando mais em desenvolver os (muitos) personagens inéditos ao lado da empatia por se tratarem de casais em sua maioria, o que não se torna um defeito por si só, mas se a talentosa Katherine Waterston encontra um espaço para explorar os picos dramáticos de sua personagem – e até mesmo de sua interpretação como atriz -, a “trama” de James Franco acaba sendo distrativa por passar a errônea impressão de uma piada mal contada por Scott. Não por acaso, me peguei mais investido em entender a piada do que na elaboração da empatia por Daniels (Waterston). Basicamente o mesmo acontece com a equivocada escalação de Danny McBride. Por que Danny McBride? Não tenho do que reclamar do seu talento para as comédias de Judd Apatow, mas por que Alien: Covenant? Antes servisse como alívio cômico, mas seu personagem é levado a sério a nível Fassbender. Sem contar a opção por lhe dar um chapéu de cowboy porque sim, sendo talvez justificado pela simples inserção de uma referência ao saudoso cantor John Denver e seu clássico Take Me Home, Country Roads. Sério, Ridley?

Com isso, o longo início perde seu propósito de criar expectativa, por mais que obtenha sucesso em cria-la, pois há sim um senso de descoberta e estranheza quando a tripulação chega ao planeta inexplorado. Inclusive, o alcance do clímax neste momento soa recompensador ao abordar a melhor cena de Covenant. Há uma visita ao verdadeiro potencial de Scott durante os primeiros ataques do alien, desenvolvendo tensão ao destacar o desespero humano com uma edição rápida e cortes precisos, explorando a imaginação do espectador ao dar relevância às reações dos personagens em cena, realçando o terror em suas expressões enquanto revela a brutalidade gráfica do perigo em cena. Há aqui, inclusive, uma rima visual com o chestbuster de John Hurt no clássico de 79. Infelizmente, a empolgação despertada no início do segundo ato é absurdamente esfriada em seguida com a introdução de David, o androide de Prometheus, também vivido por Fassbender.

Não há problemas em desenvolver o enredo e personagens em longas cenas monocórdias, afinal, a introdução com Fassbender e Guy Pearce é extensa, mas cativante até o último minuto. Há um tom limpo e clínico revestindo um atraente diálogo sobre criador e criação, alternando uma troca de ponto de vista envolvente. Lamentavelmente, o único diálogo realmente sedutor em um filme que se propõe a filosofar até demais. O problema de cenas longas é quando se tornam monótonas, e se o primeiro ataque da criatura nos despertou a empolgação com a sensação de recompensa pela espera arrastada, o talento de Fassbender ao interpretar dois personagens tão fisicamente parecidos e completamente opostos é apreciativo, mas se perde no caminho por desviar o foco de Covenant de forma drástica. Scott passa a se preocupar mais em filosofias (de formas) baratas e previsíveis, interrompendo o êxtase pela tensão das mortes recentes. Tão previsível que a ambiguidade do final seria muito mais relevante se não tivessem tentado enganar o espectador com uma reviravolta sem a menor inspiração e que não funciona.

É compreensível que exista uma necessidade de dar continuidade a história contada em Prometheus, de 2012, mas é justamente onde e quando Covenant perde de vez o interesse, que já não era grande coisa. Estabelecer urgência com uma criatura diabólica e faminta perseguindo humanos é muito mais eficaz e envolvente do que tentar climatizar e criar tensão com 2 Fassbenders tocando flauta durante tanto tempo. A preocupação com a criatura se torna, inevitavelmente, segundo plano, dando espaço para momentos risíveis em tentativas de aprofundar demais uma história que nunca precisou de profundidade.

Covenant é um filme tão defeituoso quanto seu antecessor e não chega perto do terror que encantou nos primeiros filmes. Antes apelassem para jumspcares preguiçosos, que por mais que não qualifique um bom terror, causa uma interação maior do que tentativas fracas de exibir um épico de ficção-científica, uma vez que o retorno ao terror foi anunciado e Scott soube fazê-lo de forma tão surpreendente em 79 com a sugestão, mas nem a fórmula batida do susto gratuito é usada para tentar marcar Covenant, que só não cairá no esquecimento por causa de seu histórico cinematográfico.

NOTA: 2/5

HOLANDÊSVOADOR

Embarcando no cinema

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