Crítica | Manchester À Beira-Mar
Em uma época em que os filmes de ação, de super-heróis e filmes com reviravoltas chocantes lotam os cinemas, filmes mais “simplistas” que se preocupam em apenas contar uma boa história tornam-se cada vez mais raros. Manchester À Beira-Mar surge nesse contexto como um filme que tem a pretensão de trazer uma história tocante, e abordar temas como o sofrimento e suas consequências, dor e os percalços da vida. Por meio de uma história sensível e extremamente bonita, Manchester À Beira-Mar agrada muito.
O filme dirigido por Kenneth Lonergan (Conte Comigo) conta a história de Lee Chandler (interpretado pelo ótimo Casey Affleck), que é forçado a voltar para Manchester com o objetivo de tomar conta de seu sobrinho depois que seu pai, irmão de Lee, morre precocemente. O retorno fica ainda mais complicado quando Lee precisa encarar os motivos e os traumas que o fizeram deixar a cidade.
De início, o fator mais impressionante do filme é o personagem de Casey Affleck. Bastante contido, sem se expressar muito, o ator consegue transmitir todas as emoções de um homem atormentado pelo passado somente com os olhos. Além disso, ele transmite muito bem a ideia de que Lee está, cada vez mais no decorrer do filme, carregando uma carga emocional muito pesada, que inicia-se com o trauma – grande mistério do filme – que o levou a deixar a cidade, depois com a morte de seu irmão, e por fim em sua missão de criar um adolescente sem pai e sem mãe e extremamente rebelde. Ademais, o ator arrasa em suas cenas mais extravagantes e mais dramáticas – o filme todo tem esse ar dramático, mas quando o ator precisa se soltar, ele o faz maravilhosamente.
Outra característica bastante interessante é a direção de fotografia, assinada por Jody Lee Lipes (conhecida por seu trabalho em “Descompensada” e “Afterschool”). Por mais que a paleta de cores do filme seja bastante similar durante suas duas horas, os flashbacks destoam do presente por uma presença sutil de mais cinza e mais palidez. Sem dúvida um trabalho modesto e mais cuidadoso nos detalhes, mas é impossível não destacar.
Também não tem como ignorar Michelle Williams, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. A atriz aparece em apenas três cenas, mas impressiona em todas as três. Primeiro, como uma mulher comum, casada e mãe. Depois, em sua tentativa de deixar para trás o trauma que viveu, e bastante contida. E por último, em seu diálogo final com Casey Affleck, encontra-se uma mulher tomada de sofrimento e dor na melhor cena do filme – uma cena fortíssima em que tanto Casey quanto Michelle fazem um trabalho magnífico.
Porém, o ponto mais forte do filme está em sua história impecável. Como dito no começo, na era atual do cinema, filmes sensíveis e mais humanos são cada vez mais raros e Manchester À Beira-Mar impressiona justamente por esses pontos. É um filme que trata da dor de um homem que sofreu algo que poderia acontecer a qualquer um. Trata do que o sofrimento pode fazer com um homem feliz e comum. Fala sobre perda e a tentativa de recomeçar, e faz tudo isso de uma maneira bastante sensível e humana, tornando o filme extremamente tocante e lindo.
Nota: 5/5
Ficha Técnica:
Elenco: Casey Affleck, Michelle Williams, Kyle Chandler, Lucas Hedges.
Direção: Kenneth Lonergan.
Roteiro: Kenneth Lonergan.
Data de lançamento no Brasil: 19/01/2017.