Crítica | Rogue One: Uma História Star Wars
Rogue One: Uma História Star Wars é o primeiro derivado da saga que trata da família Skywalker. Pela primeira vez nos cinemas, os sabres de luz, as guerras espaciais e o maniqueísmo sempre bem definido na franquia ficam de lado, restando guerrilheiros esperançosos e ambiciosos, e uma visão muito mais íntima da guerra que precede o episódio IV. Feito de fã para fãs, Rogue One é uma surpresa agradável.
Se passando durante os episódios III e IV, o filme conta a história de um grupo que faz parte da célula rebelde que ainda está sendo consolidada, que vai em uma missão praticamente impossível em busca dos planos da mais nova arma imperial: a temida estrela da morte. Gareth Edwards, o diretor do filme, mostra muita capacidade para conectar o filme ao restante do universo Star Wars. Fazendo referências claras à The Clone Wars, a série animada, ao trazer Saw Guerrera (interpretado por Forest Whitaker) e a alguns poucos elementos do episódio IV (mostrando, por exemplo, a criatura que importuna Luke Skywalker em Mos Eisley).
Além disso, Edwards se prova um grande desbravador do Universo e um diretor muito competente (aproveitando da melhor maneira sua experiência em cenas de batalha - com destaque para o terceiro ato, que é maravilhoso - e utilizando muito bem sua noção de escala), inserindo elementos totalmente novos e alguns conceitos bastante interessantes, como por exemplo, a outra faceta das células rebeldes. Se até o momento a imagem dos rebeldes que prevalecia era a de uma base estabelecida em Yavin 4, neste filme, essa imagem muda completamente, apresentando rebeldes independentes, com outra liderança, e evidenciando uma imagem terrorista da rebelião (em uma das cenas de conflito entre os rebeldes e o império, é possível remeter até mesmo a um conflito árabe dos dias de hoje).
Ademais, grande parte do conceito do filme é mérito de Gareth Edwards. Desde o início em que não há o letreiro tradicional, até o gênero do filme, que difere completamente de um Star Wars tradicional. Se nos sete filmes da saga principal o foco era a história dos Skywalker, sua batalha contra o lado negro da força e a redenção de Anakin, seguindo da origem de Rey como mais nova protagonista, neste o foco é outro: a intimidade e particularidade da guerra. Lembrando até mesmo filmes como Platoon e Apocalypse Now, a dor da guerra, seus dilemas, e até mesmo o grupo guerrilheiro que cria laços são marcas de Rogue One. Por mais que a força esteja presente, sempre evidenciada pelo personagem de Donnie Yen (um seguidor da força, mesmo que não seja um Jedi), esta guerra é travada com blasters e força de vontade. O drama de estar numa guerra que muitas vezes parece perdida também é um dos pontos altos da trama do filme.
Por mais que a narrativa do filme seja construída embasada no relacionamento da protagonista Jyn Erso (Felicity Jones) e seu pai, Galen (Mads Mikkelsen), nada disso interfere na construção do clima de guerra. Vale destacar também todo o material que o filme adiciona à mitologia de Star Wars, como por exemplo a exploração dos cristais Kyber - atrasada nos cinemas -, material utilizado para criar os sabres de luz – que até hoje só tinha sido explorado nos livros e quadrinhos. Além disso, toda a arte conceitual do filme agrega à mitologia criada por George Lucas. Desde troopers novos, até criaturas rebeldes que têm pequenas aparições no filme e todo o conceito da origem do poder da estrela da morte.
Em relação à como esse filme se encaixa com todo o restante do universo Star Wars, não há motivos para se preocupar. O filme não possui nenhum tipo de retcom (alteração de fatos previamente estabelecidos na narrativa), e também não se mantém preso à mitologia tradicional, tomando algumas liberdades em relação à estrela da morte e aos cristais Kyber. Quanto às referências, há um mar delas durante o filme (aparições de Mon Mothma, Bail Organa, C-3PO, e uma pequena surpresa no final) sendo que a maior de todas é Darth Vader, que possui sua melhor aparição na história da franquia, e consequentemente, a aparição mais assustadora de todas, trazendo com a voz de James Earl Jones, a respiração clássica e a luz vermelha, uma das cenas mais memoráveis de toda a mitologia.
Rogue One mistura o que houve de melhor nos anos 70 e 80: uma ótima história de guerra e claro, Star Wars. Ao combinar elementos clássicos como a aparição de uma nave imperial logo no início do filme e frases tradicionais, com elementos nunca vistos na franquia como, por exemplo, mergulhar de maneira visceral no drama da guerra (aquela mesma guerra em que nós só vemos os heróis que não participaram do confronto “sujo” durante a trilogia clássica), Rogue One: Uma História Star Wars é o filme mais surpreendente do universo até agora. Tendo tudo para dar errado, principalmente por optar seguir um caminho diferente do da nova trilogia, apostando em um tema muito mais sombrio, o filme dá totalmente certo. É difícil de acreditar, mas Rogue One: Uma História Star Wars é o melhor filme de Star Wars feito depois da trilogia clássica.