Review | Black Mirror - 3ª temporada
A queridinha da internet finalmente retornou com sua terceira temporada pela Netflix, após sair da emissora britânica Channel 4, agora com mais investimento e o dobro dos episódios que eram produzidos, será que sua essência continua a mesma, agora no serviço de streaming?
Como de costume, em cada episódio vemos um personagem e uma história diferente, mas voltada para o mesmo tipo de assunto, como a tecnologia moderna consumindo o ser humano e em períodos não especificados, que sempre nos faz chorar no final ou pensar em como levamos a vida na frente dos celulares, TV e computadores. As histórias não tem nada a ver uma com as outras, mas apenas as atitudes que a sociedade toma, seja onde habita ou social, e como a tecnologia influencia no desprezo que as pessoas têm umas com as outras.
Netflix não poderia fugir do estilo, porém colocou em pauta os temas atuais, se baseando em notícias e manchetes que vemos nos portais de compartilhamento de notícias e redes sociais. Abordando assunto como; nostalgia oitentista, romance através da tecnologia, carência de atenção em redes sociais, xenofobia, vigilância, comentários ofensivos e assim segue. Os temas não são aprofundados 100% já que não se tem tempo, mas hoje em dia vemos tanto esses casos no dia-a-dia que não é preciso chegar fundo, apenas abrir a página da internet.
Mas para explicar melhor, mais fácil explicar um pouco de cada episódio:
"Fracasso"
O primeiro episódio começa nos apresentando Lacie (Bryce Dallas Howard), uma mulher aparentemente comum, mas para agradar os outros chega a perder sua própria personalidade, já que o que importa em sua vida é o número de ¨likes¨ que se pode ter. Escrito pela dupla Rashida Jones e Michael Schur, o episódio faz um comentário sarcástico e representa muito bem a forma que utilizamos as redes sociais, e que todos temos um pouco de Lacie dentro de nós.
"Versão de Testes"
O segundo episódio dirigido por Dan Trachtenberg acaba decepcionando um pouco. Acompanhamos um aventureiro que decide esquecer dramas familiares e se envolve com um Estúdio de desenvolvimento de games, liderado pelo excêntrico diretor asiático. Temos referencia atrás da outra sobre o mundo da realidade virtual nos games de hoje, como Hideo Kojima e easter eggs de games como Bioshock e Metal Gear Solid.
Mesmo com um assunto muito interessante em mãos, 'Versão de Teste' não consegue chamar atenção o suficiente para ser bom de assistir, tendo pelo menos Wyatt Russell com sua carisma incrível segurando bem os 45 minutos de tela.
“Cala a Boca e Dança”
Sabemos que a série sempre tem pelo menos um episódio mais tenso, e é o caso de ¨Cala a Boca e Dança¨ neste terceiro ano. Nos mostrando um garoto que é coagido por atos desumanos enquanto tentava preservar sua identidade após hackers gravarem tudo através de sua webcam. Em uma jornada sufocante que se torna cada vez mais difícil e sufocante, nos apresentando a novos personagens e o que cada um deles quer esconder do mundo. Mesmo com alguns momentos cômicos, protagonizados por Jerome Flynn, ainda é um daqueles episódios que no final você fica refletindo sobre o que faria no lugar do protagonista e começar a pensar no senso de justiça - o que é certo ou errado – e se deve ter uma punição.
“San Junipero”
Um dos episódios mais leves da temporada, ´San Junipero´ ambienta uma cidade de praia no ano de 1987, no qual acompanhamos a novata Yorkie (Mackenzie Davies) que acaba de chegar a cidade com sua amiga Kelly (Gugu Mbatha-Raw), que exploram juntas este ambiente novo. Com uma ótima seleção de músicas e ambientes com neon, vemos um incrível visual oitentista, sendo um dos capítulos mais marcantes visualmente. Apesar da piração tecnológica no episódio, vemos uma história de amor contemporânea que tem como o primeiro final feliz da temporada.
“Engenharia Reversa”
Sendo um dos piores episódio, ´Engenharia Reversa´ apresenta a ovelha negra da temporada. Tentando causar impacto no telespectador sobre xenofobia, temos uma batalha de manipulação que ocorre com dois soldados, Stripes (Malachai Kirby) e Raiman (Madeline Brewer), contra as criaturas chamadas de Baratas. Com uma reviravolta e personagens desinteressantes, acaba nos trazendo para uma experiência sem graça e fácil de se esquecer.
Nem Michael Kelly sendo mais uma vez o cara ´badass´ do governo consegue salvar o episódio.
“Odiados pela Nação”
A terceira temporada é concluída com um especial de uma hora e meia, que presta uma homenagem aos dramas de detetive, mas funcionando como uma antologia, colocando o suspeito como o líder de uma campanha de ódio, pedindo para as pessoas via twitter e utilizando uma hashtag escolhem suas vítimas através de ameaças de morte. A investigação é feita pelas protagonistas Karin Parke (Kelly MacDonald), da hacker Chloe ‘Blue’ Perrine (Faye Marsay) e todo um departamento que cuida de crimes virtuais é intensa e perturbadora, que trata de um assunto que ocorre com muita frequência – deixando de lado alguns exageros – colocando em prática o foco do seriado em fazer o telespectador refletir sobre a sociedade atual e como o abuso pode levar a fins tão violentos.
Black Mirror entrega mais um ano muito satisfatório. Agora com mais episódios e investimento o diretor Charlie Brooker e sua equipe tiveram a oportunidade de brincar mais com as histórias e abordar mais temas, o que funcionou em “San Junipero” mas nem tanto assim no “Versão de Testes”. A pontualidade da série em trazer temas que podem ocorrer a qualquer minuto na sociedade faz com que fiquem perturbados, mas ainda sim querendo assistir mais e mais. Por enquanto ficamos tensos e assustados com esta temporada, pelo menos até o quarto ano da série chegar.