Games Review | 'Batman: Arkham Knight' - Medo e Culpa
Se existem duas palavras que podem explicar Gotham City são medo e culpa. Bruce Wayne tem medo de morcegos, e sente culpa pela morte de seus pais. O Comissário Gordon sente culpa pelos eventos d’A Piada Mortal, que traumatizaram sua filha para sempre, e tem medo de perdê-la para o trabalho. O Coringa muito provavelmente se sente culpado de não ter confiado no seu grande amigo Batman no final de Arkham City.
Encerrando sua “trilogia” nos videogames, Arkham Knight não quer que seu público fique com dúvidas sobre o destino do arqui-inimigo do Cavaleiro das Trevas. Após testemunharmos o fim do Coringa – com uma cena igualmente perturbadora e fantástica – vemos que, apesar do medo que os cidadãos de Gotham tinham de que a morte do principal psicopata residente da cidade seria prelúdio de um grande caos, a violência despencou. Por seis meses, Gotham viveu em paz.
Mas, se esse fosse um jogo sobre como é legal passear numa cidade pacificada e feliz, esse texto não serviria para muita coisa, não é mesmo?
Toda essa paz vai pro espaço quando o Espantalho decide que a noite de Halloween é uma excelente data para testar sua nova toxina que causa medo em toda a população, convenientemente esvaziando Gotham com a segunda melhor desculpa esfarrapada da série pra termos bandidos pirando nas ruas sem civis – a melhor ainda fica com City, no qual o prefeito decide cercar um pedaço inteiro da cidade e jogar a bandidagem toda por lá.
Mecanicamente, Arkham Knight repete a mesma fórmula de sucesso. O combate é um dos melhores em terceira pessoa, que foi replicado ad infinitum por outras empresas sem o mesmo brilhantismo da Rocksteady. Um detalhe interessante é que o Morcegão não sofre o mesmo problema de jogos baseados em conseguir novos equipamentos para progredir, como a Samus em cada novo Metroid. Não acontece algum “problema técnico” para que você perca todos as suas bat-coisas, salvo um equipamento em específico, que está guardado na Delegacia de Gotham por nenhum motivo.
O Batmóvel, uma das grandes novidades desse episódio, me deixou dividido: Por um lado, correr pelas ruas da cidade, destruindo postes, paredes, carros, casas, escadas, pessoas, hidrantes, etc. é muito recompensador, e o combate com os drones seja até interessante, a necessidade de colocar o carro em momentos-chave da história soa estranho em alguns casos – como andar num TELHADO com um CARRO - e só maluquice em outros – quanto tempo livre o Charada teve para construir verdadeiras pistas de Mario Kart no subsolo de Gotham?
Apresar de tantos pontos positivos, é de se criticar a decisão de repetir tantas missões para conseguir o final completo. Até o mais bundão dos vilões precisa ser enfrentado mais de três vezes da mesma forma para que você consiga coloca-lo atrás das grades. Se você não vê a hora de desvendar mais de 200 charadas para ver alguns minutos a mais do final do jogo, bem, então esse jogo é pra você. Ainda que não altere o final em si – você só vê o que seriam duas “cenas depois dos créditos” se tiver feito tudo – é um tanto irritante. Além disso, se você é um fã das histórias do Batman, algumas revelações vão ser pouco criativas e um tanto óbvias.
Mesmo assim, Arkham Knight fecha a conta muito acima da média na atual geração de consoles. O jogo é absolutamente lindo no PS4, possui diversos detalhes para os fãs de quadrinhos da DC. Além disso, algumas decisões na história criam momentos realmente assustadores. Até alguns jumpscares bem colocados dão um sabor novo à franquia – se cabe uma dica, mesmo que você não seja de jogar New Game +, dê uma chance e prepare-se para uma surpresa logo no começo da segunda jogada.
Agora deixa eu voltar em Gotham pra dar um rolé no meu Batmóvel.