José Padilha fala sobre série Narcos da Netflix, Robocop, filme de ficção científica e mais
O cineasta José Padilha é considerado como um dos maiores (se não o maior) diretores que temos hoje no país. Depois do sucesso que foi o documentário do Ônibus 174, Padilha ingressou em outros projetos até chegar nos mais famosos, Tropa de Elite e Tropa de Elite 2. Após o sucesso nacional, o diretor igressou em Hollywood, para dirigir o reboot de uma das franquias mais famosas do cinema, Robocop.
A Revista Trip fez uma matéria com o diretor, que hoje mora em Los Angeles (EUA) e vamos trazer aqui partes da entrevista em que ele fala sobre sua nova série Narcos, produzida pela Netflix e novos projetos que estão por vir. Ele disse que em relação a série "Quis dar um estilo parecido com Cidade de Deus, Tropa de elite, Bons companheiros".
Confira:
Você veio para Los Angeles para filmar Narcos, mas acabou se mandando pra Colômbia. Como foi a viagem?
A ideia é contar a história da cocaína. Na verdade, a cocaína não começou na Colômbia. A cocaína começou a ser produzida e industrializada no Chile, por incrível que pareça. Acho que o Chile só não se manteve e virou o maior centro exportador de cocaína porque, quando os Estados Unidos apoiaram o Pinochet e o Pinochet entrou no poder, ele foi lá e destruiu os laboratórios que existiam no Chile. O Pinochet matou grande parte dos intelectuais chilenos, fez uma repressão absurda, torturou as pessoas e tal, mas matou os traficantes de drogas também. O método era o do pelotão. Só que teve um traficante (é impressionante, mas é uma história verdadeira), chamado Cucaracha [barata em espanhol], que escapou, foi para a Colômbia e apresentou o processo de cocaína para o Pablo Escobar. Nossa série começa aí. Falamos do cartel de Medelín e também da ascensão do cartel de Cali.
Há muitos livros e filmes sobre o Pablo Escobar. Qual a novidade de Narcos?
A gente tem uma arma secreta: Wagner Moura [risos]. Queria muito fazer alguma coisa com ele de novo. Além de ser meu grande amigo, ele é um ator incrível, um dos maiores do mundo. Está no mesmo patamar dos melhores de Hollywood e de qualquer lugar do mundo. O Wagner foi pra Medelín, por conta própria, entrou na universidade bolivariana como estudante, ficou lá estudando e morando em Medelín dois meses antes de começar a série, para aprender não só a falar castelhano bem falado, mas o sotaque da região. Por outro lado, tive a sorte de descobrir esse ator, Boyd Holbrook, que não tinha feito nada muito grande até então e que vai ser o inimigo do Pablo Escobar. Estamos contando a história do ponto de vista da DEA [agência anti-drogas dos EUA], que estava na Colômbia monitorando, forçando o país a se livrar do Escobar.
Na época do Robocop, o ator principal, Joel Kinnaman, disse que você chegou a entrar num táxi em direção ao aeroporto quando levou um "não" do estúdio. Foi uma experiência difícil?
É verdade, foi lá em Toronto. Foi um pouco jogo de cena, mas não tanto. O que aconteceu é que queriam mudar o roteiro inteiro com três semanas para as filmagens. Era uma loucura e eu disse que não ia fazer. O problema é que eu, inocentemente, ou talvez nem tanto inocentemente assim, tentei fazer, como vários cineastas tentam, um filme com o que eu queria dizer num negócio de US$ 120 milhões. Se eu tivesse investido US$ 120 milhões, alguma coisa eu ia querer controlar, é natural. Mas acho o filme bom e ganhou bastante dinheiro fora dos Estados Unidos.
Pretende repetir a experiência?
Estou escrevendo um roteiro de um filme de ficção científica para a Warner Bros que vai ser por aí. Eu repetiria, mas de outro jeito. Uma das coisas que aconteceram no Robocop é que os caras tinham uma data para lançar, e a gente teve que botar o filme em produção sem ter roteiro completo. Isso é receita para o problema. Foi difícil, mas todo mundo queria acertar, né? Todo mundo queria fazer o melhor. No final das contas, é isso.
Sobre o que é esse filme de ficção científica?
É baseado num conto que eu escrevi quando tinha 18 anos e nunca publiquei. Engraçado, né? Se passa numa caverna da Ucrânia, num monastério zen. É sobre filosofia da mente. Um dia estava numa mesa contando a história para um cara, e o Greg Silverman, da Warner Bros, ouviu e disse: "Quero fazer um filme disso, quero comprar esse conto". E eu: "Como assim? Mas eu nunca publiquei". "Não importa". Daí estou aqui fazendo isso. Estou também escrevendo um roteiro sobre a estrutura política e social de Nova York e lendo roteiros. E tem também os roteiros que desenvolvi no Brasil, um deles sobre a vida do Rickson Gracie.
Vai chamar o Wagner Moura para ser o Rickson?
Não sei. Acho que não. O Wagner luta jiu-jítsu. O Rickson inclusive treinou ele para fazer o Tropa 2, lembra aquela cena de jiu-jítsu do pai com filho? É coreografia do Rickson. Ele é um cara incrível, eu tenho orgulho do Rickson, ele é um orgulho para o Brasil. A família dele desenvolveu uma arte marcial e não é fácil desenvolver uma arte marcial. Queremos fazer filmagens no Japão, nos Estados Unidos. E também tenho o roteiro da Batalha do Alemão. Começa com o Tim Lopes [jornalista da Globo morto por traficantes em 2002] e termina com a Polícia Civil cravando a bandeira naquele dia em que os traficantes tentavam correr de um lado para outro e as pessoas atiravam de longe, como se fosse um tiro ao alvo. É uma história grande, longa, não dá pra fazer ainda, mas eu vou tentar fazer os dois. Eu não desisti de fazer cinema no Brasil. Adoro fazer cinema no Brasil e vou fazer. Só estou dando um tempo aqui.
fonte: revistatrip.uol.com.br