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Crítica | X-Men: Apocalipse


Cinco anos após o reboot dos mutantes no cinema com o excelente X-Men: Primeira Classe, Brian Singer retorna como diretor dando sequência a seu trabalho feito em Dias de um Futuro Esquecido (2014).

Com uma sequência de abertura primordial, somos apresentados a En Sabah Nur e seus 4 cavaleiros no Egito antigo. Uma cena intrigante e ousada com méritos da direção de Singer que nos propõe um tom épico e objetivo para o filme, mas que não cumpre com toda a expectativa apresentada ao decorrer da projeção. O novo filme dos mutantes não se arrisca quanto poderia, mas usa de sua simplicidade como fator positivo, algo que prejudicou Dias de um Futuro Esquecido. O roteiro, porém, ainda apresenta inconstância.

A mão de Brian Singer está tão presente no longa quanto seus personagens secundários, um ponto realmente positivo, pois já provou que nenhum diretor conhece os mutantes tão bem quanto ele, mas talvez tenha chegado a hora de uma troca no posto para uma vindoura renovação no tom dos mutantes. A grande sacada de franquias como Missão Impossível é a mudança de diretor em cada capítulo, suscitando em uma sensação de renovação para uma série com 20 anos de história.

O maior ponto de X-Men: Apocalipse é, sem dúvidas, a química entre os ótimos James McAvoy e Michael Fassbender – professor Xavier e Magneto, respectivamente. O excelente trabalho dos atores funciona de forma individual e cresce resultando nos melhores momentos do filme quando dividem a mesma tela. Enquanto McAvoy apresenta um Xavier mais independente e desapegado, funcionando como alívio cômico em momentos certeiros do filme sem abandonar a complexidade de seu personagem em situações mais dramáticas, como a conturbada relação com a Mística de Jennifer Lawrence e o carinho que tem por seus alunos. Este como um contraponto ao vilão que se dirige a seus discípulos como filhos. Por outro lado, temos o Magneto de Fassbender, o melhor personagem (e ator) da trilogia atual. O ponto mais dramático do filme beira a perfeição por mérito da grande atuação de Michael, transitando pela melancolia e raiva pela tragédia que o motiva e a falta de aceitação dos humanos. O personagem, no entanto, é levemente prejudicado pelas nuances do roteiro de Simon Kinberg quando tem de lidar com Apocalipse.

Outro mérito do filme são os novos personagens reapresentados. O trio composto por Noturno (Kodi Smit-McPhee), Ciclope (Tye Sheridan) e Jean Grey (Sophie Turner) são interessantes desde o primeiro momento em que aparecem em tela. O Noturno de Kodi chama a responsabilidade do maior alívio cômico do longa, com cenas engraçadas com naturalidade. O Ciclope do ótimo Tye Sheridan é reapresentado como um personagem deslocado e rebelde, dando um banho de carisma no que foi vivido anteriormente por James Marsden (este prejudicado também pela falta de atenção de Singer na época), finalmente mostrando um líder promissor com sua forte personalidade. O brilho fica por conta de Sophie Turner, que dá vida a uma das maiores personagens da Marvel de forma encantadora. Aqui temos uma Jean Grey ainda conhecendo e temendo seus poderes, uma sensação narrada por Xavier em certo momento do filme ao reafirmar a clássica citação de que todos temem o que não entendem. Sophie entrega sua personalidade com tiradas irônicas em sua apresentação, sendo uma espécie Carrie A Estranha na escola dos mutantes. Vale destacar que a melhor piada no estilo Deadpool vem de sua personagem: ‘Todos sabem que o terceiro filme é sempre o pior’. Dito isso enquanto saem de uma sessão de O Retorno de Jedi, aqui a maior referência a construção de época dos anos 80.

O Mercúrio de Evan Peters volta a roubar a cena, mas desta vez com um tom levemente mais sério. Ainda funcionando como alívio cômico, demonstra maturidade ao lidar com o fato de ser filho não assumido de Magneto. Mais uma vez o personagem protagoniza uma cena histórica retirando gargalhadas do cinema, mas o mesmo não acontece quando tentam refaze-la pela segunda vez no terceiro ato, quebrando um ponto dramático e de desenvolvimento ameaçador do vilão, o levando ao ridículo só para poder causar impacto novamente. O filme, entretanto, acerta na ‘resolução’ imprevisível do arco de pai e filho.

Os problemas começam pelo antagonismo. Os quatro cavaleiros do apocalipse não funcionam como deveriam. Há momentos bons, mas outros bem fracos. Olivia Munn não reflete carisma algum com Psylocke, com pouquíssimas falas e expressões faciais. A aparência, ao menos, ganha ao ser idêntica a personagem original. O Anjo (Ben Hardy) também não causa empatia e muito menos é ameaçador. Um personagem que nunca foi interessante realmente. Alexandra Shipp como Tempestade é promissora, mas mal aproveitada. A atriz faz um bom trabalho, superior ao de Halle Berry, mas merecia mais tempo de tela e dedicação do roteiro. Ficou a vontade de ver mais de sua personagem nos próximos filmes.

O protagonismo da Mística é cansativo e fora do tom. Jennifer Lawrence é uma das melhores atrizes da atualidade, mas a personagem funcionava muito mais com a descrição de Rebecca Romjin, irreconhecível na maquiagem e, principalmente, sempre em sua verdadeira forma. Não há motivos para a sua liderança se não o fato de sua atriz ser maior que o filme. O mesmo quase interferiu na ótima personificação de Hugh Jackman como Wolverine, mas aqui é justificado. O personagem sempre foi um dos protagonistas da mitologia dos mutantes e funciona bem como anti-herói. Sem contar que Jackman nasceu para viver o carcaju. Basta o seu pouco tempo de tela para enfatizar que seu posto será muito difícil de ser tomado. Uma cena violenta que dará o tom do terceiro filme solo do mutante.

Quanto ao grande vilão, não há grandeza. Oscar Isaac é um dos grandes nomes da atualidade, mas tem uma atuação tímida e prejudicada pela fraca caracterização física do personagem. Também falta o carisma necessário para um vilão com a importância de Apocalipse. Não basta apelar para imagens de cidades sendo destruídas para destacar o peso e a relevância de um super vilão. O personagem passa a ficar mais interessante no terceiro ato, durante a batalha final, quando exige o poder máximo de seus combatentes e realmente revela uma ameaça, ainda que prejudicada pela por suas pobres motivações.

X-Men: Apocalipse é o filme que foi prometido por sua divulgação. Não surpreende e não decepciona. Um bom filme para a franquia que abre espaço para boas (e poderosas) novidades no futuro.

HOLANDÊSVOADOR

Embarcando no cinema

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